domingo, 18 de julho de 2010

Hash House Harriers

Ontem recebi o convite de uma colega brasileira que está no mesmo hotel que eu, a Ana, para irmos com o Robert e a Fumiko (amigos dela) nos encontrar com um grupo, os Hash. Ana explicou-me que são pessoas de todas as nacionalidades que se reúnem em diversas localidades do mundo para socializar, caminhar e/ou correr (depende da disposição), e que têm como idioma comum o inglês. Eles se encontram na casa de um dos membros do grupo, bebem cerveja ou refrigerante enquanto esperam todos chegarem, depois saem para caminhadas longas ou corridas. Achei a idéia interessante e fomos. Chegamos num casarão muitíssimo agradável onde já se encontravam umas 50 pessoas. Um australiano e um holandês assumiram a liderança dos trabalhos e depois de uma série de palavras de ordem e explicação das regras básicas para os novatos, distribuíram adereços. Uns receberam chapéu de frango (isto mesmo, um chapéu com um frango de feltro em cima), outros perucas laranja, cor-de-rosa, chapéus de pizzaiolo, vassouras com as cerdas coloridas, chapéu de dragão com o rabo cheio de espinhos e outras maluquices mais, para serem usados durante o percurso. Começamos a caminhada por volta das quatro da tarde. O grupo, já àquela altura com umas sessenta ou mais pessoas de todas as faixas etárias, começou a andar pelas mais diversas ruas, sem nenhum padrão perceptível, embora me explicassem que o caminho era traçado com antecedência. De ruelas estreitas nas quais carros eram lavados e consertados, becos sem calçamento e bastante lama a ruas históricas belíssimas e bucólicas, tudo era parte do roteiro. Obviamente éramos foco das atenções de todos por onde passava aquele bando de “loucos” com perucas coloridas, chapéus esquisitos e biotipos os mais diversos – de europeus e sul-africanos extremamente claros a africanos negros passando por um chinês e uma japonesa (além do moreno aqui, claro). Em todas as ruas os carros paravam para nos deixar passar, possivelmente preocupados em não serem atingidos por aqueles alienígenas estranhíssimos. Depois de uns quarenta minutos, pit stop numa praça arborizada onde uma van com diversas caixas de cervejas geladíssimas e refrigerantes aguardava os sedentos caminhantes. Uns parcos dez minutos após, quando um grupo de crianças de bicicleta já se reunia para tentar entender o que estava acontecendo, retomamos a marcha por mais meia hora, até a casa da parada final que descobri ser de um grupo de brasileiros, pilotos de helicóptero. Ali pude conversar com a Olívia, do Zimbabwe, com o Li-al-gu-ma-coi-sa, da China, com uma sul-africana, um australiano e por aí vai. A conversa mais longa foi com o Robert, americano de Kansas. Creio que nos identificamos pela distância da família. Ele é casado com uma sul-coreana que está nos States, apaixonado por filmes da terra da esposa e ficou felicíssimo quando descobriu que eu havia assistido e adorado um filme daquele país que fez muito sucesso em todo o mundo -“Old Boy”. Garantiu-me que vai me dar mais três filmes para eu baixar e assistir no meu computador. Também conversei com a Fumiko que fala português com perfeição, já viveu anos no Brasil, além de Portugal, Moçambique, Bélgica e agora, Angola. Apesar de menos de um metro e meio de altura é possivelmente, pelo que eu soube, a melhor corredora do grupo. Ao final do encontro um “batizado” com os novos membros que têm que responder de onde vêm, qual seu nome, porque estão ali, e, apesar das perguntas bobas, são sempre acusados de algum erro e têm que pagar a pena devida –banho de cerveja (o mais comum) e/ou tomar cerveja num vaso sanitário plástico de brinquedo, que todos receberam. Fingi que era membro da confraria desde pequenininho para não pagar mico e nem sair com cheiro de cerveja da cabeça aos pés, sujando o carro e sendo (com certeza) olhado com extremas restrições na volta ao hotel. Hoje pedi ajuda aos dois baixinhos lá de casa e descobri que os Hash House Hariers são comunidades informais que existem de forma descentralizada em todo o mundo, com origem em 1938 e que se auto intitulam “grupo de bebida com problemas de corrida”. Forma saudável e prazerosa de conhecer pessoas, lugares e socializar. Fica o registro.

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