domingo, 22 de agosto de 2010

Casa Nova, Talatona & Outros


Após mais de um mês em hotéis, finalmente estou num espaço só para mim. Por melhor que seja um hotel e por melhores que sejam seus serviços, nada supera a sensação de ter seu canto, ter lugar para as suas coisas, poder andar à vontade, não ficar confinado no quarto ou (a outra alternativa) compartilhar o espaço comum com desconhecidos. Um hotel, para mim, é sempre impessoal. A casa nova é muito boa, espaçosa e fica na parte nobre de Luanda, o bairro de Talatona, projetado e belissimamente construído pela Odebrecht. Fico aqui nesta casa bonita, grande, imaginando como será o dia em que ela estará cheia de sons, risos, barulhos de discussão, vida, enfim. Olho a churrasqueira e sonho com as picanhas beeeemmm mal passadas que o Sê gosta, ao ponto para o Lê e a Léri. Vou na versão local da Perini, a Casa dos Frescos (não, não é um espaço gay) e fico pré-selecionando o que vou comprar quando a turminha estiver de novo comigo, admirando cortes de carne que não conhecia (a maioria de origem portugesa), experimentando coisas novas. A última foi hambúrguer de atum (apenas razoável). Fico fazendo planos de quais atividades inventarei para que os pentelhos eternamente irrequietos não se cansem logo e fiquem entediados. Quando estou num restaurante e gosto de um prato, registro mentalmente para trazer a família aqui e pedir para eles. Uma das mais recentes descobertas é uma franquia portuguesa que serve Bife da Vazia, de Lombo, Caldo Verde, Prego, Bitoques, Espetadas de Frango e outras iguarias de nome estranho. Se não for sonhar demais, espero também mostrar estas descobertas ao Niro, ao sogrão e à grande sogra, ao tio Léo. Como nada é perfeito, agora enfrento o famoso engarrafamento de Luanda e levo mais de hora e meia para chegar ao trabalho, outro tanto para voltar, a não ser que resolva deixar o escritório após as oito da noite ou saia de casa às cinco da manhã, o que muitos fazem. Fico pensando em como aproveitar este tempo e uma das alternativas que imaginei foi comprar algum curso digital e aprimorar meu inglês. Enquanto não decido, para distrair e passar o tempo, ouço alguns dos poucos CD´s de música brasileira de qualidade que consegui comprar no (por enquanto) único shopping e vou registrando as peculiaridades da cultura local. Uma delas é o comércio de rua, no sentido literal. Não estou falando de camelôs com suas barracas ou tabuleiros nas calçadas e sim de pessoas que circulam entre os carros em movimento e oferecem praticamente de tudo. Já pensei em fazer uma lista, mas ainda não comecei. Entretanto já vi oferecerem aos motoristas (vou desprezar o óbvio que também se faz no Brasil, como DVD´s piratas, balas, água, óculos e outros itens pouco imaginativos), pasmem, galões de combustível, botijões de gás, estetoscópios, macaco hidráulico para carros, linguiça, peixe seco, chave de roda, balança digital, mapas múndi, quadro para aulas com os respectivos apagadores e “Pilots”, mobiliário para residências, equipamentos eletrônicos diversos, frutas, cervejas, lanternas. Eu, particularmente, comprei uma escova para lustrar sapatos. A propósito, se pagar o primeiro preço que lhe informarem, corre o risco de desembolsar até o dobro do valor real. Não é desonestidade. A barganha e o negociar fazem parte da cultura de muitos povos, como os árabes e os angolanos. É só questão de aprendizado, adaptação e disposição para entender o diferente.
PS. Respondendo a questionamentos feitos no Blog e por e-mail, qualquer pessoa pode incluir link para este espaço ou reproduzir os textos, desde que fazendo referência à fonte: “Blog Diários de Angola”

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