domingo, 22 de agosto de 2010

Do Lubango ao Namibe, passando pela Serra da Leba e Deserto de Moçâmedes I


Os meus andares por Angola desta vez me levaram ao Sul do país, às igualmente agradáveis porém extremamente distintas localidades de Lubango e Namibe. Entretanto, por mais interessantes que sejam as cidades, a cena é definitivamente roubada pela Serra da Leba e pelo Deserto de Moçâmedes. Mas, como diria Jack o Estripador, vamos por partes. Há tantas coisas interessantes a relatar que, se eu não estabelecer um mínimo de disciplina, vou esquecer muitos aspectos que merecem registro. Primeiro, Lubango. A cidade fica na província do Huíla, numa altitude que varia entre os 1700 e 2000 metros. Clima serrano, a temperatura neste período do ano oscila entre os 26 e os 10 graus centígrados mas já atingiu extremos de 1 grau. A serra da Leba domina a cidade. A vista, quando se examina a paisagem ao redor, é sempre atraída por este belo elemento (recuso-me a usar o termo acidente) geográfico que ocupa metade do horizonte visual. Menos cuidada que Benguela ou Lobito, menos urbanizada, possui ruas mais esburacadas, estreitas e (surpresa!) tem até engarrafamento às seis da tarde e às onze da manhã. Tem também seu “Cristo Rei”, na parte mais alta da serra que está voltada para a cidade. Fiquei hospedado num hotel simples porém de extremo bom gosto chamado Casper Lodge ou Chalé do Gasparzinho (aceitam-se correções). Na entrada, um desenho do Fantasminha ilustra a escolha do nome. Pouco acima, literalmente falando já que a cidade se espalha do sopé até quase o topo da serra, um parque belíssimo com árvores de mais 30 metros de altura, muitos pinheiros e eucaliptos, mesas e bancos de alvenaria para quem quiser sentar e ler, bater papo, namorar (vi vários casais), apreciar a paisagem, dar uma corrida. Por incrível que pareça, identifiquei diversos elementos comuns entre Lubango e Vitória da Conquista na Bahia. Altitude, muitos eucaliptos aromatizando o ar, temperatura amena, jeito da população local e até mesmo a Feira Agropecuária e de Negócios com stands diversos e um parque de diversões anexo, no mesmo período do ano. Num dos restaurantes em que fui, o Bela Huíla, obra do irmão de um companheiro recente aqui de Angola, o Ivo, ficou patente que bom gosto e criatividade estão à disposição de quem tiver competência. Local para umas sessenta pessoas, cozinha estilo “aquário” dentro do espaço de atendimento, música ao vivo. A música merece destaque especial. Primeiro, há sempre um microfone sem fio do grupo que se apresenta, à disposição do público. Desta forma qualquer artista “acidental” (e havia muitos) podia fazer parte do espetáculo e este detalhe fazia uma significativa diferença. O repertório, interessantíssimo, mesclava música angolana, brasileira e pop internacional. O da música brasileira foi um capítulo à parte. O Rei foi quem mais contribuiu, com obras que iam da fase de Jovem Guarda, O Calhambeque (pausa – eu, em Angola, numa noite de sexta, numa cidade do interior do país, num restaurante local, banda local, ouvindo música brasileira do Roberto, anos sessenta, cantada por jovens da faixa dos vinte cujos pais eram crianças quando a música foi lançada!) a músicas mais recentes. Extremamente eclético. O ambiente, agradabilíssimo. Comida boa, simples, adega dominada (sempre, por aqui) por vinhos portugueses, alegria, bom humor. Lembro a mim mesmo que cada momento interessante deve ser vivido e percebido nas suas diversas dimensões. O segundo elemento desta narrativa, a Serra, está entre Lubango e Namibe, vai dos 2500 metros até quase o nível do mar, possui uma estrada que serpenteia por cima do topo dos morros tendo sempre um paredão de um lado e um precipício (e bota precipicio!) do outro, fascinando por mais de 20 quilômetros os que têm o privilégio de a conhecer. Quando o Victor e o Ivo, meus companheiros de jornada e anfitriões, me levaram ao mirante de onde se vê a maior parte da estrada que serpenteia serra abaixo, me surpreendi gritando (muito raramente falo palavrão) P!!!! Q!!!!!P!!!!! Estava diante de um espetáculo belíssimo, quase assustador. Continuo na próxima, a narrativa é longa.

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