terça-feira, 31 de agosto de 2010

Do Lubango ao Namibe passando pela Serra da Leba III


A Serra da Leba desce de quase dois mil até trezentos metros acima do nível do mar, quando a paisagem começa a mudar e se deixa um terreno com muitas pedras, mas também muita vegetação, muito verde, e começa-se a adentrar num trecho em que a vegetação fica cada vez mais rala, amarelada, baixa e as pedras aumentam. É a transição entre a serra e o deserto. Mais uma meia hora e a vegetação praticamente desaparece.

Sou informado de que aquele trecho é tão inóspito que há noventa quilômetros existe uma pentenciária que não tem (porque não precisa, ninguém sabe para onde fugir) muros. Por mutos e muitos quilômetros apenas as pedras e um chão que não é aquele que nos acostumamos a ver na televisão, nos desertos de Hollywood, de areia fina. O deserto do Moçâmedes é de um chão argiloso, duro, amarelado. De repente o olhar treinado do Victor chama a atenção para algo à esquerda do carro. São babuínos que fogem para o alto de uma gigantesca rocha quando nos aproximamos, tornando-se pouco mais que pequenos pontos quase indistintos.

À nossa frente, um buraco natural na rocha com dois ou três metros de profundidade por uns quatro de diâmetro, guarda ainda um resto da maior riqueza que se poderia encontrar por ali. Um resto de água suja, verde, mas ainda assim, água, num raio de muitos quilômetros, o suficiente para manter aquele bando ali por perto.


Mais uma vez o chão esbranquiçado e sem vegetação retoma a paisagem. Nenhuma planta, nenhuma sombra, nenhuma água, nem mesmo pedras para quebrar a monotonia da viagem.
De repente o Ivo avisa: daqui a pouco vamos passar por um oásis. Vêem me à mente visões árabes com tamareiras, areias, um pequeno lago de águas cristalinas, mas a realidade é completamente diferente.
Do nada, surge uma uma pequena região com vegetação viçosa de ambos os lados da estrada, por um trecho de poucas centenas de metros, o suficiente para que um grupo de pessoas viva ali. Percebe-se pequenas plantações, poucos animais e sinais de vida em comunidade. Esta grande árvore ao lado parece-se bastante com árvores de florestas assombradas de filmes infantis e é única dentre o restante da vegetação. Assim como pouco antes, logo depois o chão seco e áspero retoma a cena. Seguimos por mais uns quinze a vinte minutos e novamente percebe-se a presença de água, ainda que em meio ao ambiente hostil. Estamos nos aproximando da cidade do Namibe, do mar. Namibe é uma cidade pequena, pacata, com um tipo de urbanização completamente diferente de Lubango, vive em função do mar. Seus pratos típicos são deliciosos.
Comi um carangueijo com mais de vinte centímetros de tamanho, com o casco bem mais tenro que os caranguejos brasileiros, de alto mar. Delicioso. No mercado lulas, chocos e peixes diversos estão expostos em balcões e todos os vendedores e vendedoras tentam convencer você de que seu peixe é mais fresco e melhor. A variedade de produtos é impressionante. Vi uns peixes galo que pelo tamanho deviam se chamar aqui de peixe peru. Muito maiores que os do Brasil, pelo menos o dobro do tamanho. Também muitos peixes salgados atendem às necessidades daqueles que têm que fazer longos percursos pela região, sem ter como manter o produto resfriado. Quando se observa bem, percebe-se que o deserto vai até o mar. O Rui, nosso anfitrião local me fala de uma planta carnívora que só existe naquela região, capaz de matar pequenos coelhos e pássaros. Segundo ele, seu interior aveludado é convidativo e os animais se deitam e se aconchegam para escapar do frio. Encontram depois apenas a pele e os ossos ressecados. Fica para a próxima visita.

À esquerda, as lulas, mais distantes, e o choco, maior, molusco muito comum e muito consumido por aqui. Do lado oposto o super peixe galo, com pelo menos uns trinta centímetros de tamanho e bastante grosso em relação ao que costumava ver nas praias e feiras do Brasil. Observem que eles estão numa bacia alta e as cabeças ficam bem acima da borda.


Um comentário:

  1. ai que delícia...caranguejo....amo! Deu água na boca...traga na mala, ou manda por sedex, endereço da FTC VIC!!

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